releituras 1001
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Re: releituras 1001
Ai a minha vida!
komodore- VIP 1001blogs
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Re: releituras 1001
Todos temos remédio..
komodore- VIP 1001blogs
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Re: releituras 1001
A UM AUSENTE
Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.
Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?
Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.
Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste
Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.
Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?
Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.
Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste
Re: releituras 1001
A UM AUSENTE
Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.
Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?
Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.
Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste
Carlos Drummond de Andrade
Re: releituras 1001
Sorri quando a dor te torturar
E a saudade atormentar
Os teus dias tristonhos vazios
Sorri quando tudo terminar
Quando nada mais restar
Do teu sonho encantador
Sorri quando o sol perder a luz
E sentires uma cruz
Nos teus ombros cansados doridos
Sorri vai mentindo a sua dor
E ao notar que tu sorris
Todo mundo irá supor
Que és feliz
Charles Chaplin
E a saudade atormentar
Os teus dias tristonhos vazios
Sorri quando tudo terminar
Quando nada mais restar
Do teu sonho encantador
Sorri quando o sol perder a luz
E sentires uma cruz
Nos teus ombros cansados doridos
Sorri vai mentindo a sua dor
E ao notar que tu sorris
Todo mundo irá supor
Que és feliz
Charles Chaplin
Re: releituras 1001
O início do meu livro...
Depois de 20 anos passados atrás de uma secretária, Afonso Guedes achou que era altura de se aposentar. E de bom grado o teria feito, não fosse a contestação dos mais de mil funcionários públicos que batiam incessantemente à sua porta a mandar bitaques sobre o verdadeiro futuro do país. País? Futuro? Que estariam eles para ali a dizer? Se soubessem a quantidades de baboseiras que emanavam daquelas bocas, até enterravam a cabeça no chão feito avestruzes até passar o temporal. Afonso era nada mais nada menos que o chefe da secretaria da Fazenda Pública Nacional. Era ele, que com o seu fabuloso cargo, geria os bens e patrimónios do Estado Português nos meados dos anos 80. O futuro do país passava pela crise, mas após o toque das 17 horas, e com a maior das calmas, o Fonzo, como era carinhosamente retratado pelos amigos, encerrava as portas do seu escritório e refugiava-se, enquanto terminava de assinar mais uma pilha de papéis, num belo chá de cidreira com uns bolinhos de canela. Este era o seu momento preferido do dia, em que ao som de um Rashmaninov, degustava com prazer o seu lanche. Ali, naquele instante, tudo parecia perfeito, que nada se lhe poderia chegar, nem muito menos chatear.
Eram já 19h23 minutos quando Fonzo tranca o seu escritório, e sai para a rua, sentindo ainda o beijo quente do sol. Como é natural no Verão, os dias são maiores, e só escurece lá pras tantas da noite.
Quantos de vocês não se lembram das horas passadas nas ruas, a atirar balões de água uns aos outros, a brincar às escondidas. Lembro-me de um episódio da minha infância, que em tudo foge a esta história, mas tem de ser contado. Tinha mais ou menos 9 ou 10 anos, e na minha rua estavam a fazer obras nos passeios e fizeram até um buraco no meio da estrada, ligando os dois lados. Ora, como a rua é de muito movimento, foram colocadas 2 chapas enormes sobre esse buraco de modo a dar passagem aos carros. Claro que para um puto de 10 anos, era uma oportunidade única de brincar nos buracos das obras, sujar-se de lama e apresentar-se aos avós como tinha conseguido nódoas que jamais haveriam de sair da roupa. Era o puto perfeito.
Bom, eu e o resto da malta da rua vimos naquelas obras a oportunidade de encenar uma guerra apocalíptica entre duas facções distintas, no nosso caso, os bons e os maus. Com tubos de electricidade a servirem de canudos e listas telefónicas a servir de munições, saltavamos de um buraco para outro tentando acertar uns nos outros, fazendo as nossas alegrias. No final, fui mais um amigo de longa data cravar literalmente a uma cervejaria ali perto tremoços, servindo como que de ração de combate. A nossa sorte é que um dos rapazotes que brincava connosco era filho dos donos da cervejaria e por isso, saímos de lá carregados com toneladas de tremoços que em tudo contribuíram para uma enorme dor de barriga. Aquele pseudo tunel fabricado pelos homens das obras fez as minhas delícias durante 2 semanas, e tanto eu como o pessoal da minha idade íamos lá para baixo à espera que passasse um carro para ouvirmos o som e o movimento das chapas de metal sendo calcadas por toneladas de peso bruto.
Depois de 20 anos passados atrás de uma secretária, Afonso Guedes achou que era altura de se aposentar. E de bom grado o teria feito, não fosse a contestação dos mais de mil funcionários públicos que batiam incessantemente à sua porta a mandar bitaques sobre o verdadeiro futuro do país. País? Futuro? Que estariam eles para ali a dizer? Se soubessem a quantidades de baboseiras que emanavam daquelas bocas, até enterravam a cabeça no chão feito avestruzes até passar o temporal. Afonso era nada mais nada menos que o chefe da secretaria da Fazenda Pública Nacional. Era ele, que com o seu fabuloso cargo, geria os bens e patrimónios do Estado Português nos meados dos anos 80. O futuro do país passava pela crise, mas após o toque das 17 horas, e com a maior das calmas, o Fonzo, como era carinhosamente retratado pelos amigos, encerrava as portas do seu escritório e refugiava-se, enquanto terminava de assinar mais uma pilha de papéis, num belo chá de cidreira com uns bolinhos de canela. Este era o seu momento preferido do dia, em que ao som de um Rashmaninov, degustava com prazer o seu lanche. Ali, naquele instante, tudo parecia perfeito, que nada se lhe poderia chegar, nem muito menos chatear.
Eram já 19h23 minutos quando Fonzo tranca o seu escritório, e sai para a rua, sentindo ainda o beijo quente do sol. Como é natural no Verão, os dias são maiores, e só escurece lá pras tantas da noite.
Quantos de vocês não se lembram das horas passadas nas ruas, a atirar balões de água uns aos outros, a brincar às escondidas. Lembro-me de um episódio da minha infância, que em tudo foge a esta história, mas tem de ser contado. Tinha mais ou menos 9 ou 10 anos, e na minha rua estavam a fazer obras nos passeios e fizeram até um buraco no meio da estrada, ligando os dois lados. Ora, como a rua é de muito movimento, foram colocadas 2 chapas enormes sobre esse buraco de modo a dar passagem aos carros. Claro que para um puto de 10 anos, era uma oportunidade única de brincar nos buracos das obras, sujar-se de lama e apresentar-se aos avós como tinha conseguido nódoas que jamais haveriam de sair da roupa. Era o puto perfeito.
Bom, eu e o resto da malta da rua vimos naquelas obras a oportunidade de encenar uma guerra apocalíptica entre duas facções distintas, no nosso caso, os bons e os maus. Com tubos de electricidade a servirem de canudos e listas telefónicas a servir de munições, saltavamos de um buraco para outro tentando acertar uns nos outros, fazendo as nossas alegrias. No final, fui mais um amigo de longa data cravar literalmente a uma cervejaria ali perto tremoços, servindo como que de ração de combate. A nossa sorte é que um dos rapazotes que brincava connosco era filho dos donos da cervejaria e por isso, saímos de lá carregados com toneladas de tremoços que em tudo contribuíram para uma enorme dor de barriga. Aquele pseudo tunel fabricado pelos homens das obras fez as minhas delícias durante 2 semanas, e tanto eu como o pessoal da minha idade íamos lá para baixo à espera que passasse um carro para ouvirmos o som e o movimento das chapas de metal sendo calcadas por toneladas de peso bruto.
komodore- VIP 1001blogs
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Re: releituras 1001
muito bem
espero que num futuro bem proximo concretizes o teu sonho .....mereces .....
espero que num futuro bem proximo concretizes o teu sonho .....mereces .....
Re: releituras 1001
PESSOA
--------------------------------------------------------------------------------
Ao longe, ao luar,
No rio uma vela
Serena a passar,
Que é que me revela?
Não sei, mas meu ser
Tornou-se-me estranho,
E eu sonho sem ver
Os sonhos que tenho.
Que angústia me enlaça?
Que amor não se explica?
É a vela que passa
Na noite que fica.
Fernando Pessoa, 5-08-1921
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Ao longe, ao luar,
No rio uma vela
Serena a passar,
Que é que me revela?
Não sei, mas meu ser
Tornou-se-me estranho,
E eu sonho sem ver
Os sonhos que tenho.
Que angústia me enlaça?
Que amor não se explica?
É a vela que passa
Na noite que fica.
Fernando Pessoa, 5-08-1921
Re: releituras 1001
Adeus!
Adeus! para sempre adeus!
Vai-te, oh! vai-te, que nesta hora
Sinto a justiça dos céus
Esmagar-me a alma que chora.
Choro porque não te amei,
Choro o amor que me tiveste;
O que eu perco, bem no sei,
Mas tu... tu nada perdeste;
Que este mau coração meu
Nos secretos escaninhos
Tem venenos tão daninhos
Que o seu poder só sei eu.
Oh! vai... para sempre adeus!
Vai, que há justiça nos céus.
Sinto gerar na peçonha
Do ulcerado coração
Essa víbora medonha
Que por seu fatal condão
Há-de rasgá-lo ao nascer:
Há-de sim, serás vingada,
E o meu castigo há-de ser
Ciúme de ver-te amada,
Remorso de te perder.
Vai-te, oh! vai-te, longe, embora,
Que sou eu capaz agora
De te amar - Ai! se eu te amasse!
Vê se no árido pragal
Deste peito se ateasse
De amor o incêndio fatal!
Mais negro e feio no inferno
Não chameia o fogo eterno.
Que sim? Que antes isso? - Ai, triste! -
Não sabes o que pediste.
Não te bastou suportar
O cepo-rei; impaciente
Tu ousas a deus tentar
Pedindo-lhe o rei-serpente!
E cuidas amar-me ainda?
Enganas-te: é morta, é finda,
Dissipada é a ilusão.
Do meigo azul de teus olhos
Tanta lágrima verteste,
Tanto esse orvalho celeste
Derramado o viste em vão
Nesta seara de abrolhos,
Que a fonte secou. Agora
Amarás... sim, hás-de amar,
Amar deves... Muito embora...
Oh! mas noutro hás-de sonhar
Os sonhos de oiro encantados
Que o mundo chamou amores.
E eu réprobo... eu se o verei?
Se em meus olhos encovados
Der a luz de teus ardores...
Se com ela cegarei?
Se o nada dessas mentiras
Me entrar pelo vão da vida...
Se, ao ver que feliz deliras,
Também eu sonhar... Perdida,
Perdida serás - perdida.
Oh! vai-te, vai, longe embora!
Que te lembre sempre e agora
Que não te amei nunca... ai! não;
E que pude a sangue-frio,
Covarde, infame, vilão,
Gozar-te - mentir sem brio,
Sem alma, sem dó, sem pejo,
Cometendo em cada beijo
Um crime... Ai! triste, não chores,
Não chores, anjo do céu,
Que o desonrado sou eu.
Perdoar-me tu?... Não mereço.
A imundo cerdo voraz
Essas pérolas de preço
Não as deites: é capaz
De as desprezar na torpeza
De sua bruta natureza.
Irada, te há-de admirar,
Despeitosa, respeitar,
Mas indulgente... Oh! o perdão
É perdido no vilão,
Que de ti há-de zombar.
Vai, vai... para sempre adeus!
Para sempre aos olhos meus
Sumido seja o clarão
De tua divina estrela.
Faltam-me olhos e razão
Para a ver, para entendê-la:
Alta está no firmamento
Demais, e demais é bela
Para o baixo pensamento
Com que em má hora a fitei;
Falso e vil o encantamento
Com que a luz lhe fascinei.
Que volte a sua beleza
Do azul do céu à pureza,
E que a mim me deixe aqui
Nas trevas em que nasci,
Trevas negras, densas, feias,
Como é negro este aleijão
Donde me vem sangrar às veias,
Este que foi coração,
Este que amar-te não sabe
Porque é só terra - e não cabe
Nele uma ideia dos céus...
Oh! vai, vai; deixa-me, adeus!
POR: Almeida Garrett, in 'Folhas Caídas'
Adeus! para sempre adeus!
Vai-te, oh! vai-te, que nesta hora
Sinto a justiça dos céus
Esmagar-me a alma que chora.
Choro porque não te amei,
Choro o amor que me tiveste;
O que eu perco, bem no sei,
Mas tu... tu nada perdeste;
Que este mau coração meu
Nos secretos escaninhos
Tem venenos tão daninhos
Que o seu poder só sei eu.
Oh! vai... para sempre adeus!
Vai, que há justiça nos céus.
Sinto gerar na peçonha
Do ulcerado coração
Essa víbora medonha
Que por seu fatal condão
Há-de rasgá-lo ao nascer:
Há-de sim, serás vingada,
E o meu castigo há-de ser
Ciúme de ver-te amada,
Remorso de te perder.
Vai-te, oh! vai-te, longe, embora,
Que sou eu capaz agora
De te amar - Ai! se eu te amasse!
Vê se no árido pragal
Deste peito se ateasse
De amor o incêndio fatal!
Mais negro e feio no inferno
Não chameia o fogo eterno.
Que sim? Que antes isso? - Ai, triste! -
Não sabes o que pediste.
Não te bastou suportar
O cepo-rei; impaciente
Tu ousas a deus tentar
Pedindo-lhe o rei-serpente!
E cuidas amar-me ainda?
Enganas-te: é morta, é finda,
Dissipada é a ilusão.
Do meigo azul de teus olhos
Tanta lágrima verteste,
Tanto esse orvalho celeste
Derramado o viste em vão
Nesta seara de abrolhos,
Que a fonte secou. Agora
Amarás... sim, hás-de amar,
Amar deves... Muito embora...
Oh! mas noutro hás-de sonhar
Os sonhos de oiro encantados
Que o mundo chamou amores.
E eu réprobo... eu se o verei?
Se em meus olhos encovados
Der a luz de teus ardores...
Se com ela cegarei?
Se o nada dessas mentiras
Me entrar pelo vão da vida...
Se, ao ver que feliz deliras,
Também eu sonhar... Perdida,
Perdida serás - perdida.
Oh! vai-te, vai, longe embora!
Que te lembre sempre e agora
Que não te amei nunca... ai! não;
E que pude a sangue-frio,
Covarde, infame, vilão,
Gozar-te - mentir sem brio,
Sem alma, sem dó, sem pejo,
Cometendo em cada beijo
Um crime... Ai! triste, não chores,
Não chores, anjo do céu,
Que o desonrado sou eu.
Perdoar-me tu?... Não mereço.
A imundo cerdo voraz
Essas pérolas de preço
Não as deites: é capaz
De as desprezar na torpeza
De sua bruta natureza.
Irada, te há-de admirar,
Despeitosa, respeitar,
Mas indulgente... Oh! o perdão
É perdido no vilão,
Que de ti há-de zombar.
Vai, vai... para sempre adeus!
Para sempre aos olhos meus
Sumido seja o clarão
De tua divina estrela.
Faltam-me olhos e razão
Para a ver, para entendê-la:
Alta está no firmamento
Demais, e demais é bela
Para o baixo pensamento
Com que em má hora a fitei;
Falso e vil o encantamento
Com que a luz lhe fascinei.
Que volte a sua beleza
Do azul do céu à pureza,
E que a mim me deixe aqui
Nas trevas em que nasci,
Trevas negras, densas, feias,
Como é negro este aleijão
Donde me vem sangrar às veias,
Este que foi coração,
Este que amar-te não sabe
Porque é só terra - e não cabe
Nele uma ideia dos céus...
Oh! vai, vai; deixa-me, adeus!
POR: Almeida Garrett, in 'Folhas Caídas'
Última edição por Dana_bebek em Qui 21 Abr 2011, 12:31 am, editado 1 vez(es)
Dana_bebek- VIP 1001blogs
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Re: releituras 1001
:palmas:
komodore- VIP 1001blogs
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Re: releituras 1001
Adoro este poema!
Cheguei a sabe-lo de cor...agora a capacidade não dá pra tanto
Cheguei a sabe-lo de cor...agora a capacidade não dá pra tanto
ChøcøLåtë- Mestre 1001blogs
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Re: releituras 1001
ChøcøLåtë escreveu:Adoro este poema!
Cheguei a sabe-lo de cor...agora a capacidade não dá pra tanto
não cheguei a tanto, mas ja o devo ter lido mais de 100 vezes
Dana_bebek- VIP 1001blogs
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Re: releituras 1001
Adeus - Eugénio de Andrade
Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.
Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.
Dana_bebek- VIP 1001blogs
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Re: releituras 1001
Um acto define uma acção, uma palavra define a humanidade em nós.
Um querer define uma razão, uma oferenda define o nosso anseio libertino.
Porque será o ser humano ingrato ao ponto do poder?
Um querer define uma razão, uma oferenda define o nosso anseio libertino.
Porque será o ser humano ingrato ao ponto do poder?
komodore- VIP 1001blogs
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Re: releituras 1001
Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela,
Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela,
E vendo-a sempre de maneiras diferentes do que a encontro a ela.
Faço pensamentos com a recordação do que ela é quando me fala,
E em cada pensamento ela varia de acordo com a sua semelhança.
Amar é pensar.
E eu quase que me esqueço de sentir só de pensar nela.
Não sei bem o que quero, mesmo dela, e eu não penso senão nela.
Tenho uma grande distracção animada.
Quando desejo encontrá-la
Quase que prefiro não a encontrar,
Para não ter que a deixar depois.
Não sei bem o que quero, nem quero saber o que quero. Quero só Pensar nela.
Não peço nada a ninguém, nem a ela, senão pensar.
Alberto Caeiro
Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela,
E vendo-a sempre de maneiras diferentes do que a encontro a ela.
Faço pensamentos com a recordação do que ela é quando me fala,
E em cada pensamento ela varia de acordo com a sua semelhança.
Amar é pensar.
E eu quase que me esqueço de sentir só de pensar nela.
Não sei bem o que quero, mesmo dela, e eu não penso senão nela.
Tenho uma grande distracção animada.
Quando desejo encontrá-la
Quase que prefiro não a encontrar,
Para não ter que a deixar depois.
Não sei bem o que quero, nem quero saber o que quero. Quero só Pensar nela.
Não peço nada a ninguém, nem a ela, senão pensar.
Alberto Caeiro
Dana_bebek- VIP 1001blogs
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Re: releituras 1001
Passo as noites acordado, lendo nos meus pensamentos, a figura triste e gélida que a solidão me transformou. Cariz, alguém sem amor, porém carinho, como quem corre em desatino..
E assim acordei, deste pesadelo que é a vida..
E assim acordei, deste pesadelo que é a vida..
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Re: releituras 1001
O direito á emancipação e livre escolha das mulheres, é mais que um direito humano, é acima de tudo um direito universal e espiritual, ou não são as mulheres seres humanos com o mesmo direito a uma vida livre, como o homem? Ou serão antes as mulheres seres sem cabeça, tronco e membros, sem emoção nem sentimento, sem espirito nem alma?
Re: releituras 1001
qiu escreveu:O direito á emancipação e livre escolha das mulheres, é mais que um direito humano, é acima de tudo um direito universal e espiritual, ou não são as mulheres seres humanos com o mesmo direito a uma vida livre, como o homem? Ou serão antes as mulheres seres sem cabeça, tronco e membros, sem emoção nem sentimento, sem espirito nem alma?
:palmas: :palmas: :palmas:
Dana_bebek- VIP 1001blogs
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Re: releituras 1001
qiu escreveu:O direito á emancipação e livre escolha das mulheres, é mais que um direito humano, é acima de tudo um direito universal e espiritual, ou não são as mulheres seres humanos com o mesmo direito a uma vida livre, como o homem? Ou serão antes as mulheres seres sem cabeça, tronco e membros, sem emoção nem sentimento, sem espirito nem alma?
Concordo que a mulher tem sempre uma palavra a dizer. Porém, enquanto muitas se rebaixam ao homem, outras ganham forças e forçam a opressão a desistir. Eu estou do lado das mulheres que lutam, que querem a igualdade, pois somos todos seres humanos.
komodore- VIP 1001blogs
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Re: releituras 1001
bem dois em um ..........lol........levei nas orelhas e fui apoiada .......muito bem
Re: releituras 1001
qiu escreveu:bem dois em um ..........lol........levei nas orelhas e fui apoiada .......muito bem
é homem.. pronto... :p (Kidding!)
Dana_bebek- VIP 1001blogs
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Re: releituras 1001
mas ...tem toda a razão, como quase sempre .....Dana_bebek escreveu:qiu escreveu:bem dois em um ..........lol........levei nas orelhas e fui apoiada .......muito bem
é homem.. pronto... :p (Kidding!)
Re: releituras 1001
sim, pois é!
Dana_bebek- VIP 1001blogs
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